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"Redemoinho", xilogravura de Arlindo Daibert |
"a objetiva, de combates e andanças - criadoras da personalidade do jagunço que termina chefe do bando; e a subjetiva, marchas e contramarchas de um espírito estranhamente místico, oscilando entre Deus e o Diabo." (6)
Este jagunço aposentado narraria, mais do que sua vida de aventuras, "a secular pendência entre o espírito do Bem e do Mal." (6)
Há uma oscilação encarnada em Riobaldo e "sua permanente preocupação em saber até onde somos criaturas de Deus ou escravos do Demo" (6)
Há um "mundo instável, em que só Deus é estático." (6).
Riobaldo sabe que "Deus é a justiça", "mas não compreende suas misteriosas sentenças, desconcerta-o a cegueira dessa justiça que castiga nos filhos inocentes, o crime do Aleixo. Diante do sofrimento dos cavalos feridos a bala, morrendo sem culpa, alvejados pelos jagunços, pensa: 'Acho que Deus não quer consertar nada, a não ser pelo completo contrato: Deus é uma plantação. A gente - é as areias.' " (7)
Diante da incerteza permanente, Riobaldo, agora fazendeiro sedentário e tranquilo, "vai ao encontro de todos os cultos: 'Reza é que salva da loucura. No geral. Isso é que é a salvação da alma... Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio.'" (8)
Para Cavalcanti Proença, ao fim da vida, Riobaldo "chega a um quase desencanto religioso, descobrindo, por si, a sabedoria do Eclesiaste, convencido de que é preciso viver com alegria, pensar para diante. 'Mas eu, hoje em dia, acho que Deus é alegria e coragem - que Êle é bondade adiante, quero dizer. O senhor escute o buritizal.'" (9)
Haveria uma "superposição de planos" que poderiam ser divididos em três partes: "A primeira, individual, subjetiva, que acabamos de resumir, antagonismo entre os elementos da alma humana; a segunda, coletiva, subjacente, influenciada pela literatura popular que faz do cangaceiro Riobaldo um símile de herói medieval, retirado de romance de cavalaria e aculturado nos sertões do Brasil Central [o que será o segundo capítulo do livro de Proença]; a terceira, telúrica, mítica, em que os elementos natu- (9)
rais - sertão, vento, rio, buritis - se tornam personagens vivos e atuantes." (10)
Esta análise, todavia, seria uma simplificação "pois que as várias camadas se interpenetram" (10)
"Decorre dessa complexidade uma abundância de elementos alegóricos, uma simbologia muito densa, além do caráter polissêmico das personagens." (10)
Para Proença, Diadorim "simboliza, algumas vezes, o anjo-da-guarda, a consciência de Riobaldo." Certa vez distrai Riobaldo da ideia fixa de fazer um pacto com o Diabo e este último se esconde de Diadorim quando resolve pactuar (10); Diadorim também o impede de matar o leproso e d'outra feita teme pela salvação de Riobaldo, a ponto até de esquecer do ciúme e mandar um recado para Otacília rezar pelo noivo. (11)
Outra prova deste papel de Diadorim: "Diadorim é o maior inimigo do Hermógenes, e, então, transfigurado no arcanjo Miguel, é ele quem vence e mata o Pactário." (12)
O próprio Riobaldo, "quando Diadorim morre, quando o Anjo o deixa", desmaia: "'Como de repente não vi mais Diadorim! No céu um pano de núvens.'" (12)
(Continua amanhã, se os deuses forem bons :-) )
Bibliografia:
PROENÇA, Manuel Cavalcanti. (1958) Trilhas no Grande sertão. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional.
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